François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 279
Visão Espírita da Páscoa
O Espiritismo, embora seja uma doutrina Cristã, entende de forma diferente alguns dos ensinamentos apregoados pelas igrejas cristãs com relação à Pascoa.
Primeiramente, o Espiritismo não celebra a Páscoa com rituais, mas respeita as manifestações de religiosidade de outros segmentos espiritualistas.
A grande divergência entre a Doutrina Espírita e as demais religiões que celebram a Páscoa é no tocante à Ressurreição. Para nós espíritas, Jesus apareceu a Maria de Magdala e aos seus discípulos com seu corpo espiritual, que chamamos de perispírito. Entendemos que não houve uma ressurreição corporal, física, pois Jesus não derrogaria nenhuma lei natural do nosso mundo para firmar o seu conceito de missionário.
Aqui se faz necessário abrir um breve parêntese para endossar o entendimento da Doutrina Espírita ao que chamamos de corpo perispiritual, conhecido há milênios e estudado nas ciências secretas, por pesquisadores e filósofos, não sendo uma “invencionice” do Espiritismo. Para os Egípcios, era o Khá, para Tertuliano, Corpo vital da alma; para Pitágoras, Corpo sutil da alma; para Aristóteles, Corpo sutil e etéreo; para Hipócrates, Eu Astral; Paulo de Tarso, Corpo Espiritual; para os cristãos primitivos, Corpo Glorioso; para Leibniz, Corpo Fluídico; para os Ocultistas, Ego Transcendental, para os pesquisadores modernos, Corpo psíquico, Corpo bioplasmático e outros. Em assim sendo, nada há de novo nessa questão, apenas uma questão de nomenclatura para dizer a mesma coisa.
Desse modo, o que parece mais racional e lógico é que Jesus tenha feito sua aparição no seu corpo espiritual, com a finalidade de dar ânimo aos seus seguidores, enfatizando que a vida é eterna, que nós espíritos somos eternos e viajores no tempo, em nosso processo evolucional; que tudo o que foi passado e ensinado por Ele não se perderia com a morte, pois a vida segue e, todos os esforços sugeridos na melhora do ser para a conquista do Reino dos Céus nunca se perderia.
Os espíritas consideram que o fato de não ter havido a ressurreição, mas, sim, a aparição por meio do seu corpo perispiritual, não tira o mérito da missão de Jesus.
Apesar de termos outro entendimento sobre a ressurreição, a Festa da Páscoa não se invalida se a encararmos no seu simbolismo, podendo ser interpretada como a libertação da ignorância, das mazelas humanas e a busca pelo comportamento ético-moral. Jesus demonstrou que se pode executar homens, mas não se consegue matar as grandes ideias renovadoras, os grandes exemplos de amor ao próximo e de valorização da vida.
Vejamos dois casos de “ressurreição” operada por Jesus, no sentido simbólico e jamais como algo que contraria as leis naturais: Ressuscitou Lázaro e ressuscitou Madalena. Aos olhos do mundo, a primeira destas duas maravilhas assume maiores proporções, mas, aos olhos de Deus, o segundo prodígio é mais belo, mais valioso. O corpo de Lázaro veio a morrer após aquela ressurreição; Madalena nunca mais morreu porque o que nela ressurgiu não foi a carne, foi o espírito. A carne ressurge para a morte, a alma ressurge para a vida. Ressuscitando Madalena, ressuscitou um cadáver, porque sua alma era morta para a espiritualidade. Jesus ressuscitando Lázaro, a filha de Jairo e o filho da viúva Naim, teve em mira promover ressureições de almas. Operava aqueles “milagres” como meio de atingir um fim: ressuscitar espíritos mortos, sepultados em túmulos de carne. Lázaro foi um missionário na Terra; veio para dar testemunho de que Jesus era o Cristo, o ungido de Deus. Madalena representa o produto, o resultado, o fruto bendito da obra redentora do Salvador do gênero humano.
Quando Jesus disse aos seus apóstolos - “Ide, pregai o Evangelho, ressuscitai os mortos” - é da ressurreição do espírito que ele falava. Em idêntico sentido se devem tomar estas suas palavras: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá, e o que vive e crê em mim jamais morrerá”.
Assim, a Páscoa deve ser uma reflexão para avaliarmos o quanto do Cristo já habita os nossos corações.