François Marie Gabriel Delanne nasceu em Paris, no dia 23/3/1857, ano de lançamento de "O Livro dos Espíritos". Seu pai, Alexandre Delanne, muito amigo de Allan Kardec, era espírita e sua mãe, Marie Alexandrine Didelot, era médium e contribuiu na codificação do Espiritismo. Gabriel foi engenheiro e dedicou-se ao Espiritismo Científico, tendo buscado sua consolidação como uma Ciência estabelecida e complementar às demais. Fundou a União Espírita Francesa, a revista "O Espiritismo", além de ter publicado vários livros. Desencarnou no dia 15/2/1926, aos 69 anos.
Semana 291
Durante o messianato de Jesus, Israel vivia sob o domínio do império romano. Os judeus, oprimidos e explorados pelos impostos que eram obrigados a pagar, aspiravam ardentemente a sua libertação, criando a falsa expectativa que o Messias viria para salvá-los dessa opressão. Sempre que possível, o Mestre Nazareno buscava distanciar-se das questões políticas locais e esclarecê-los, e numa reunião, quando os fariseus perguntaram quando viria o reino de Deus, ele respondeu: “O reino de Deus não vem com mostras exteriores. Por isso ninguém poderá dizer: ei-lo aqui, ou ei-lo acolá, pois o reino de Deus está dentro de vós”. (Lucas, 17:20-21). Contudo, ansiosos, tinham dificuldade em compreender a essência dessa mensagem, imaginando que esse reino mencionado seria implantado após a expulsão dos romanos daquela região, perguntaram: “Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel? Ele lhes respondeu: Não compete a vocês saberem os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade”. (Ato dos Apóstolos, 1:6-7).
Isso esclarece o motivo da frustração de Judas Tadeu e Cleofas, quando após o martírio do Carpinteiro Nazareno, fugiram de Jerusalém rumo a Emaús, comentando: “e nós esperávamos ser ele (Jesus), que ia trazer a redenção a Israel. E hoje é o terceiro dia desde que tudo isso aconteceu”. (Lucas, 24:21). Sabemos que a missão de Jesus nunca foi política, mas apresentar um roteiro para o homem se libertar de suas mazelas morais, buscando primeiro o reino de Deus (Mateus, 6:33), ou seja, superando as ilusões do mundo material e priorizando os valores espirituais.
O Espiritismo esclarece que somos Espíritos imortais, com inúmeras oportunidades reencarnatórias para conquistar as virtudes necessárias a fim de nos tornarmos espíritos puros. Mas, tudo a seu tempo. Segundo o Espírito Emmanuel (XAVIER, F. C., Vinha de Luz, cap. 177), “o Reino Divino não será concretizado na Terra, através de atitudes extremistas. O próprio Mestre asseverou-nos que a sublime realização está no meio de nós. A edificação do Reino Divino é obra de aprimoramento, de ordem, esforço e aplicação aos desígnios do Mestre, com base no trabalho metódico e na harmonia necessária”.
Por isso, segundo o Espírito Amélia Rodrigues (FRANCO, D.P., O Essencial, cap. 10), o mestre Galileu esclareceu a Pedro e aos demais discípulos em Cafarnaum, sobre a necessidade da nossa transformação moral, vivenciando o seu Evangelho – “o Reino de Deus é edificado no coração, pacificado pelo amor, na comunhão das criaturas que se amam como irmãos verdadeiros, que se respeitarão, ajudando-se mutuamente. A felicidade de uns está sempre dependente da generalização e bem-estar de todos. Por enquanto é uma proposta que parece inalcançável, porque a escala de valores existentes é equivocada e as paixões dominantes são doentias. Ao enunciá-lo, temos por objetivo de fraternidade e crescimento, modificando parâmetros de comportamento por aqueles que meu Pai me mandou apresentar e viver”.
Realmente, a Humanidade necessita realizar um trabalho de depuração moral, erradicando o egoísmo e a violência que ainda assolam todas as nações. Conforme Allan Kardec (O Livro dos Espíritos, questão 793), só teremos verdadeiramente o direito de nos considerar civilizados, quando houvermos banido de nossa sociedade os vícios que a desonram e quando passarmos a viver como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, seremos apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização. De fato, o bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que vêm habitá-la, os bons predominarem sobre os maus; então eles farão reinar na Terra o amor e a justiça, que são a fonte do bem e da felicidade, visto que o “Reino de Deus é obra divina no coração dos homens!” (XAVIER, F. C., Boa Nova, cap. 3, pelo Espírito Humberto de Campos).
O autor é presidente da União das Sociedades Espíritas (USE), Regional de Piracicaba, e palestrante espírita.